Censura à impressa em Montes Claros – Por João Figueiredo*
Historiadora conclui, em pesquisa de mestrado, que houve intensa censura à imprensa montes-clarense durante o Regime Militar. A imprensa montes-clarense, via de regra, sempre esteve vinculada às elites locais, ainda que muitos profissionais, funcionários do setor, fossem trabalhadores assalariados com consciência do conflito de classes vivenciado dentro dos próprios veículos. Os veículos, em sua maioria, historicamente sempre estiveram a serviço de correntes político-partidárias da classe dominante. Houve até jornais que, em determinado período, se apresentavam como isentos de vínculo partidário – curiosamente o proprietário de um deles foi o latifundiário envolvido diretamente no conflito com “Saluzinho”, um pequeno posseiro, no município de Varzelândia. O dito latifundiário utilizou jagunços e até a polícia a seu favor, além de usar o seu jornal para criar uma imagem desfavorável ao pequeno posseiro, tachando-o de “comunista”, “terrorista”, “invasor de terras”, dentre outros adjetivos considerados ultrajantes. Mas, esse conservadorismo da imprensa local não a isentou da censura a suas publicações, durante o Regime Militar. A historiadora Camila Gonçalves Silva trata da questão da censura à imprensa montes-clarense em sua dissertação de mestrado, defendida na Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2013, com o título: “A censura veste farda: elites conservadoras, policiais militares e o consentimento da imprensa escrita à censura, durante o Governo Militar em Montes Claros de 1964-1985”. Coincidentemente a historiadora utilizou como uma referência um artigo de nossa autoria sobre a presença dos militares em Montes Claros desde sua criação, publicado na Revista Tempo em 2007. Silva mergulhou fundo nas publicações do período de que trata a sua dissertação e entrevistou figuras importantes do jornalismo montes-clarense, como Felipe Gabrich, Décio Gonçalves de Queiroz, Haroldo Lívio de Oliveira, dentre outros. Ela concluiu que a censura esteve presente na cidade, com a presença física de policiais militares atuando como censores nas redações; trata da leitura prévia das edições pelos censores e das estratégias que muitos jornalistas usavam para burlar essa censura. Diz a autora que a censura se tornou intensa na cidade, antes mesmo de se instituir essa prática como parte da política do Regime Militar em todo o país. Há, porém, um ponto que merece crítica no seu trabalho: ela afirma que havia soldados e oficiais desempenhando essa atividade. Se considerarmos que os soldados da Polícia Militar, nessa época, eram profissionais cuja escolaridade exigida para ingresso na corporação era o então 4º ano primário (hoje exige-se formação universitária para se tornar soldado), estes não teriam condições de exercerem essas atividades, por falta de capacitação intelectual. Logo, essa censura só poderia ser feita por oficiais. A autora destaca que essas atividades ocorreram por iniciativa do então comandante do 10º Batalhão da PM na cidade, que tinha uma destacada atuação política em prol do Regime Militar. * Historiador, sociólogo, jornalista e escritor.
HIERARQUIA E DISCIPLINA – Um jogo de poder na ponta de um iceberg
A hierarquia e a disciplina são os pilares institucionais das instituições militares, segundo seus regulamentos. Por João Figueiredo* A hierarquia pode ser definida como organização fundada sobre uma ordem de prioridade entre os elementos de um conjunto ou sobre relações de subordinação entre os membros de um grupo, com graus sucessivos de poderes, de situação e de responsabilidades. A disciplina, por sua vez, pode ser entendida como a capacidade de organização, de seguir propósitos, mediante a obediência ao conjunto de regras e normas que são estabelecidos por determinado grupo e que requer o cumprimento de responsabilidades específicas de cada pessoa. Não há como negar que a hierarquia e a disciplina são categorias imprescindíveis em qualquer organização, seja ela militar ou civil, pública ou privada, religiosa ou secular – que o diga Sun Tzu, autor de “A arte da Guerra”, escrito no século IV a.C. Contudo, essas categorias, como veremos adiante, no contexto militar, têm uma significação que está além de uma simples visão racional. Vamos tentar entender essa questão à luz da Psicanálise Reichiana. Hierarquia e disciplina, no meio militar, teoricamente são definidos segundo as regras da semântica e apresentados como uma exigência lógica determinada por uma única força (a dos regulamentos) que atua sobre os indivíduos, colocando uns submissos aos outros, em virtude de necessidades táticas e estratégicas do campo militar. Na prática, porém, “há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia”, como disse Hamlet, personagem shakespeariano. Concomitante com a racionalidade presente nessas relações, há muita subjetividade, uma gama de sensações (fenômenos perceptivos), sentimentos (fenômenos subjetivos) e emoções (relações afetivo-expressivas) atuando com força motriz. O lado profissional é apenas a ponta do iceberg. As relações hierárquicas no meio castrense, exceções à parte, costumam ser recheadas de atitudes conduzidas pelos traumas, frustrações e complexos diversos de quem tem autoridade para mandar. Wilhelm Reich, em “Psicologia de Massas do Fascismo”, fala dos traumas e frustrações, especialmente os decorrentes da repressão sexual, que se tornam combustíveis para as ações de futuros ditadores, ou de futuros pais que farão dos seus lares microcosmos de estados ditatoriais. O autor também não deixa escapar o aspecto libidinal do ambiente militar: o uniforme, o ideal de virilidade, as paradas, as posturas marciais, o exibicionismo, segundo ele são características vinculadas diretamente à libido, que produzem excitação tanto nesses indivíduos como em outras pessoas, principalmente entre aquelas com visão acrítica da realidade. Mas, vejamos algumas características da hierarquia militar, sob a perspectiva psicanalítica reichiana. Ela, em tese, se organiza em torno do poder pelo grau de saber, pelo conhecimento: o cabo é superior ao soldado porque, em tese tem mais conhecimento profissional que este; o sargento é superior ao cabo pela mesma razão, e assim sucessivamente. Ou seja, a hierarquia militar tem por base o conhecimento na profissão, dentro de uma visão realista, concreta. Entretanto, as relações hierárquicas dessas corporações perpassam o campo racional e se revestem de um simbolismo capaz de mover as pessoas envolvidas sem que elas percebam que são conduzidas por essa força. Essas relações ganham um caráter quase sobrenatural, sagrado, por assim dizer. As insígnias dos superiores – especialmente nos níveis hierárquicos mais elevados – são vistas não apenas como indicativo de grau hierárquico, mas como se entidades transcendentais fossem. O poder emanado dessa simbologia é algo extraordinário, capazes de mover os indivíduos (quem manda e quem é mandado) muito além do plano racional. Se dois soldados estão conversando à vontade em determinado ambiente e chega um coronel, por exemplo, o rumo da conversa e as atitudes dos soldados mudam completamente; é como se uma força externa agisse imediatamente sobre os dois, criando tensão e cuidados com a fala e a postura corporal… Por outro, aos olhos de um bom observador, o superior, no caso exemplificado, quase sempre tem os seus deleites íntimos pelo poder que emana de si. As forças que movem essas relações, são mais visíveis em jovens alunos, mormente dos cursos de formação de soldados. Durante os cursos e logo após a conclusão deles, esses alunos tendem a se mostrar excessivamente entusiásticos, devotados cegamente ao ambiente militar, extremamente exaltados com os comandos em altos tons de voz e com ordens emanadas de maneira ríspida, enérgica… A grande maioria de suas brincadeiras nos momentos de descontração, por essa época, são representações teatrais do que vivenciam nos cursos envolvendo autoritarismo e submissão. Encenam comandos, ordens enérgicas, movimentos corporais vibrantes e atitudes de submissão de alguém ao seu tacão. Fazem teatro daquilo que vivenciam durante o curso. Em suma, as relações hierárquicas, especialmente do campo militar, não são revestidas de impessoalidade, ainda que as normas que as regem digam o contrário. * Historiador, sociólogo, jornalista, professor de Capoeira e de Yoga, terapeuta integrativo (associa Capoeira, Yoga e Psicanálise Reichiana).
A QUEM INTERESSA UMA GUERRA CIVIL NO BRASIL? Por João Figueiredo*
Não há dúvidas de que as pessoas que estão se manifestando em frente aos quartéis, pedindo por um golpe das Forças Armadas, sabem que uma tomada de poder nas condições que estão pedindo implica em provocar no país uma guerra civil. Nem todos, entretanto, têm ideia clara das consequências de uma guerra civil. Temos exemplos recentes de desastrosas guerras civis, pelo mundo, algumas delas duraram décadas, como em Angola por 27 anos, no Líbano por 15 anos, Iugoslávia por 10 anos, na Síria está em curso há 11 anos… Mas, a quem interessa uma guerra civil no Brasil? As tais manifestações se apresentam sob a justificativa de que o resultado das urnas em relação à eleição presidencial teria sido produto de fraude. Há suspeitas de que a própria coordenação da campanha eleitoral bolsonarista, se não o próprio Bolsonaro, esteja disfarçadamente estimulando tais manifestações. Vamos, então, tentar responder a indagação contida no primeiro parágrafo. Uma guerra civil nas condições que vem sendo preparada pelos partidários de Bolsonaro, a julgar pelo perfil e comportamento da maioria dos manifestantes, atenderia aos anseios aventureiros de muitos aposentados, homens e mulheres, civis e militares, carentes de peripécias que lhes aplaquem o tédio da vida cotidiana – em muitos casos o descompasso entre os desejos impulsionados pela libido e a incapacidade orgânica da explosão orgástica direcionam o indivíduo para a busca de outras formas de queima das energias acumuladas… Mas há outros interesses mais objetivos de diversos grupos, dentre eles: 1) Alguns militares ambiciosos, com sede de poder (acredita-se que não são maioria nas Forças Armadas); 2) Os derrotados nas urnas eleitorais em 2022, que veem a possibilidade de se manterem no poder, caso se efetive de fato o golpe reivindicado às Forças Armadas; 3) Os fabricantes de armas, munições e artefatos de guerra, assim como contrabandistas desses produtos, por razões óbvias; 3) Os comerciantes de gêneros de primeira necessidade, produtos farmacêuticos, etc., interessados nos lucros ao vender seus estoques com ágio, haja vista que o transporte de mercadorias ficaria prejudicado no caso de guerra; 4) Aqueles que costumam se apropriar dos despojos de guerra, para enriquecimento pessoal; 5) Os que se aproveitam da miséria e da fome da população atingida pela guerra, como um meio de se promoverem politicamente, com práticas demagogas. Os que defendem a tomada do poder pelos militares, acreditam, em sua maioria, que desta vez se repetiria o mesmo que ocorreu em 1964: a tomada de poder sem confronto armado e com pleno domínio dos militares – lembrando que confrontos armados desse tipo podem durar décadas seguidas, como alguns casos acima citados, com inúmeras mortes de combatentes envolvidos e de pessoas inocentes, com consequências graves para a qualidade de vida dos sobreviventes, como veremos mais adiante. Não percebem, os afoitos manifestantes, que em 1964, em plena Guerra Fria, os EUA apoiavam golpes desse tipo, em todo o continente americano e outras partes do planeta, por temor de que as então recentes ações ocorridas em Cuba (1959) e o apoio a elas dispensado pela então União Soviética, poderiam se repetir em outros países americanos e promover o domínio da URSS no continente. Assim, o serviço de inteligência da CIA colaborou na articulação do golpe no Brasil, inclusive na mobilização para a “Passeata da Família com Deus” que viria coroar todo o arcabouço de sustentação ideológica golpista. Os EUA também disponibilizaram, na época, o apoio militar direto de uma força-tarefa da Operação Brother Sam, estacionada no Caribe, para o caso de uma reação armada das forças leais a João Goulart – o presidente deposto preferiu não reagir, não obstante o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, ter proposto uma reação com tropas de militares leais a ele. Hoje a realidade é outra. Os EUA vêm adotando outras estratégias de política externa, nas quais não está incluído semelhante apoio, além do fato de que o governo de Joe Biden não é simpático às ações do governo Bolsonaro. Logo, uma guerra civil no Brasil hoje poderia se estender anos a fio com previsões trágicas para todos os brasileiros: mortes, fome, doenças, destruição de bens públicos e privados… Um detalhe de suma importância e que não se pode esquecer é que até o século XIX a América do Sul era dividida apenas em América Espanhola e América Portuguesa. A América Espanhola, a partir de conflitos armados internos, se dividiu em 33 territórios, dos quais 31 são países independentes e 02 são dependências de outros países: Guiana Francesa e Porto Rico. A América Portuguesa continuou intacta com apenas um território: o Brasil não se dividiu devido ao advento da vinda da Família Real, em 1808, e aqui ter sido estabelecida a sede do “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”. Uma guerra civil no país, hoje, além de todas as agruras, devastação e mortes que uma guerra provoca, poderia resultar na divisão territorial do país. Isto é, o Brasil acabaria dividido em dois ou mais países independentes. Um exemplo de divisão, após uma guerra civil, mais recente, que pode ser apontado para nós, é o caso da Iugoslávia, cujos conflitos internos de 1991 a 2001 a dividiu nos seguintes países: Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia. Alguém poderia tentar apresentar a justificativa de que a Iugoslávia era composta por uma diversidade étnica antes da guerra e que essa diversidade foi responsável pela divisão. Em resposta poderíamos indagar: e o Brasil, quantos povos compõem o povo brasileiro na atualidade?… * Jornalista e escritor
Tormenta: O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos
– Um retrato implacável do primeiro ano de Bolsonaro no poder. – Lançado pela Companhia das Letras, o livro Tormenta – O governo Bolsonaro – crises, intrigas e segredos da jornalista Thaís Oyama desnuda o governo Bolsonaro. De uma das eleições presidenciais mais polarizadas da história republicana, sai vitorioso Jair Messias Bolsonaro, ex-capitão do Exército que chegou a defender publicamente a tortura, autor de não mais que dois projetos de lei aprovados ao longo de 27 anos de mandato como deputado e merecedor de apenas três dos 512 votos de seus pares na última vez que tentou se eleger presidente da Casa, em 2017. A partir de um rigoroso trabalho de reportagem, Tormenta revela como opera o governo do 38º presidente da República, que forças se digladiam entre as paredes do Palácio do Planalto e de que forma as crenças e os temores ― reais e imaginários ― de Bolsonaro e de seus filhos influenciam os rumos do país. O livro traz detalhes surpreendentes sobre a crise interna de seu mandato, revelando segredos dos generais que o cercam no Palácio, intrigas que corroem o primeiro escalão do poder e bastidores que não chegaram aos jornais. Mais do que mostrar as peculiaridades e a dinâmica do governo de Jair Bolsonaro ― e de nos situar no calendário dos atribulados primeiros 365 dias de sua gestão ―, a narrativa de Thaís Oyama ajuda o leitor a compreender o ano que passou e a vislumbrar o que nos aguarda. – Para quem se interessar pelos acontecimentos da política nacional em 2018-19, o livro é este. Abra o PDF e deguste-o…
Museu do Prado, legendário templo da arte, faz 200 anos
Inaugurado em 1819, o Prado é um dos museus mais famosos do mundo – e um dos mais visitados. Em 19 de novembro de 1819, foi inaugurado com o nome oficial Museu Real de Pintura y Escultura. As obras dos séculos 19 e 20 deixaram o museu em 1971, tornando esse templo da arte acima de tudo um centro de obras de grandes mestres antigos. Nudez de Goya A arte espanhola foi naturalmente o foco das atenções desde o início. A pintura de Francisco de Goya A Maja Nua foi pintada entre 1795 e 1800. A obra causou um escândalo. A Inquisição espanhola quis saber de Goya quem encomendou o trabalho. Não se sabe o que ele respondeu, mas mesmo assim teve revogado o título de pintor da corte. Hoje, a pintura atrai multidões ao Prado. Velásquez e a família real Várias obras do espanhol Diego Rodriguez de Silva y Velásquez também podem ser encontradas no Prado. A mais importante e famosa é As meninas (aqui um excerto), de 1656. A obra entrou para a história da arte por refletir o ato de pintar. O próprio Velásquez pode ser visto à esquerda com um pincel. Nudez de Dürer Hoje, a coleção de pinturas do Prado inclui milhares de quadros. O núcleo espanhol foi ampliado, com obras da Holanda, França, Itália, Inglaterra e dos países de língua alemã. Uma das mais famosas é Adão e Eva (1507), pintada sobre madeira, mostrada aqui após uma trabalhosa restauração. Visões de Botticelli Uma obra-prima da pintura italiana no Prado é História de Nastagio – Parte 1 de Sandro Botticelli (aqui um excerto). A pintura Encontro com os amaldiçoados na floresta de pinheiros remonta ao livro Decameron, de Giovanni Boccaccio, e mostra uma mulher sendo perseguida por cães e homens. A obra é do final do século 15. O museu espanhol também expõe numerosos ícones da pintura holandesa, como por exemplo uma grande obra de Hieronymus Bosch (1450-1516): O jardim das delícias terrenas. Aqui o espectador pode mergulhar nos inúmeros detalhes de um tríptico de 2,20 por 3,90 metros que trata da história da Criação. Cenas da Antiguidade O pintor holandês Peter Paul Rubens passou a vida trabalhando em representações de narrativas da Antiguidade. Na pintura Mercúrio e Argos (na foto uma parte da obra) ele descreve magistralmente como o mensageiro divino Mercúrio ataca o guardião Argos para libertar a princesa Io, que fora transformada em vaca. Danças camponesas O mestre flamengo Jan Brueghel (1568-1625) também está representado em Madri com uma obra importante. A sua pintura Dança dos Duques mostra o grande talento desse artista visionário. Jan Brueghel, o Velho, também conhecido como Brueghel Camponês, era considerado um mestre na representação da vida rural.
C u r i o s i d a d e
– Revólver que matou Van Gogh é leiloado em Paris – Considerada a “mais famosa arma da história da arte”, pistola Lefaucheux teria sido usada no suicídio do pintor em 1890. Casa de leilões responsável pela venda também reconhece outra versão da morte do artista. A casa de leilões parisiense Drouot vendeu por 162 mil euros (cerca de 700 mil reais) na quarta-feira, 19.06., a arma com a qual Vincent Van Gogh supostamente se suicidou em 27 de julho de 1890. A arma foi comprada por um colecionador particular em oferta telefônica. O revólver Lefaucheux de 7mm fora estimado inicialmente entre 40 e 60 mil euros. A arma foi descoberta por um agricultor, por volta de 1960, num campo perto de Auvers-sur-Oise, vilarejo ao norte de Paris onde o pintor holandês passou os últimos meses de sua vida. A casa de leilões AuctionArt – Rémy Le Fur, que vendeu a arma através do Hôtel Drouot, disse que, dificilmente sua autenticidade pode ser absolutamente estabelecida e que só há certeza sobre o local onde foi encontrada. “Testes técnicos mostraram que ela foi usada e esteve enterrada por um período que se encaixaria com o ano de 1890”, afirmou. “Todas essas pistas dão crédito à teoria de que esta foi a arma usada no suicídio”, afirmou a casa de leilões. Com essas conclusões, o revólver foi acolhido pelo Museu Van Gogh em Amsterdam, onde foi apresentado pela primeira vez ao público na exposição Nos confins da loucura, a doença de Van Gogh , em meados de 2016. Testes revelaram que revólver ficou enterrado entre 50 e 80 anos. De acordo com a Drouot, depois de uma estada de dois anos no sul da França, Van Gogh se instalou em Auvers-sur-Oise, em 20 de maio de 1890, a conselho de seu irmão Theo. O médico Paul Gachet, amigo de Camille Pissaro e de vários pintores impressionistas, cuidou do artista holandês, que teve frequentes crises psicológicas. Van Gogh, que alugava um quarto na estalagem de Arthur Ravoux, estava no auge de sua criatividade, pintando mais de um quadro por dia. Mas no final do mês de julho, sua saúde mental ficou cada vez mais abalada. O pintor tomou a arma emprestada do dono da estalagem. Num domingo em 27 de julho de 1890, Van Gogh foi passear no campo. Levantou a camisa e disparou sobre o peito com a arma que teria levado da estalagem. Van Gogh deixou escapar o revólver das suas mãos e desmaiou. Ferido, recuperou a consciência e regressou à estalagem. Apesar dos cuidados do médico Paul Gachet, Vincent Van Gogh morreu após 36 horas de agonia, na noite de 29 de julho de 1890. A maioria dos historiadores da arte acredita que Van Gogh se matou. Essa suposição, no entanto, foi questionada nos últimos anos. Em 2011, investigadores americanos defenderam a tese de que o pintor não teria se suicidado, mas teria ficado ferido por um tiro acidental disparado por dois meninos que brincavam com uma arma no campo. Essa teoria ganhou novo apoio através de uma nova cinebiografia do artista holandês, estrelada por Willem Dafoe, No portal da eternidade (2018), na qual a arma dispara após os dois irmãos entrarem em conflito com o estranho boêmio. A casa de leilões reconheceu que a arma também poderia ter sido escondida ou abandonada pelos dois garotos. Fonte: DW-Germany Quem foi Vincent Van Gogh? Augúrios sombrios… Vincent Willelm Van Gogh veio ao mundo em 30 de março de 1853, recebendo o mesmo nome do irmão que nascera morto exatamente um ano antes. Ao todo eram cinco crianças na casa do pastor protestante Theodorus. Vincent descreveu a juventude na casa da família em Groot-Zundert como “escura e fria”. Ao longo de sua breve vida, ele manteve correspondência regular com o irmão Theo, quatro anos mais novo. Ovelha negra da família Aos olhos de sua família, Vincent era um fracassado. Toda profissão que assumiu, seja marchand, oficial de Marinha ou pregador laico, ele abandonou depois de pouco tempo. Em 1879 ele assumiu um cargo temporário de missionário na região carvoeira de Borinage, Bélgica. Alugou uma cabana junto à família de um padeiro na cidade de Cuesmes, onde viveu na mais absoluta pobreza. Lápis como arma A miséria dos mineiros impressionou Vincent Van Gogh. Mais ainda: ele se identificou ao extremo com os habitantes da Borinage, pintou o rosto de preto para ser um deles. Por fim, tomou o lápis e passou a documentar a vida das pessoas em torno de si, em desenhos canhestros. No fundo do poço Da mina Marcasse, na Borinage, hoje só restam ruínas, um vagão recorda tempos sombrios. É nele que Van Gogh entrou, para vivenciar de perto as condições de trabalho dos mineiros, a 700 metros de profundidade. Em carta ao irmão Theo, ele descreveu seu choque com a opressiva falta de espaço e escuridão. Escuridão inicial Após vários desvios, chegou à cidade holandesa de Nuenen, para onde seu pai fora designado como pastor. Vincent buscou abrigo junto aos pais, que só a contragosto o acolheram. Lá permaneceu, de 1883 a 1885. No período, ele retratou os lavradores e os campos da província de Brabante do Norte, ainda em cores escuras. Ele pintou de forma direta, sem embezar, até mesmo um simples cesto de batatas. Motivos singelos Em Nuenen, hoje um subúrbio da metrópole Eindhoven, Van Gogh desfrutou uma vida simples. Ele descobriu as tecelarias caseiras como tema pictórico, assim como as edificações pequenas e singelas típicas da cidade. O pintor ainda principiante trabalhou todo um inverno nos esboços de “Os comedores de batatas”, até ficar satisfeito. [11:20, 4/7/2019] Cabaré: Natureza e trabalho Nasceram obras cheias de melancolia, algumas ainda anatomicamente imperfeitas. Mas ele pintou ao menos um quadro por dia. Em Nuenen ele teve até mesmo um ateliê próprio – um enorme luxo. A residência do pastor (foto) dava vista sobre a despojada cabana de jardim em que Van Gogh trabalhava. Atração pela França Ninguém podia prever que esse antiacadêmico holandês estaria, um dia, entre os artistas
Marina Tourinho e Leandro d’Melo
5° episódio
Museus Históricos Brasileiros
– Leve seus filhos a museus – Construída em 1603 na antiga Ponta do Calabouço, no Centro do Rio de Janeiro, a Fortaleza de Santiago deu origem ao conjunto arquitetônico que abriga o Museu Histórico Nacional, o mais importante museu de história do país. Seu acervo inclui 258 mil itens e uma biblioteca especializada em história do Brasil, história da Arte, museologia e moda. Museu do Ipiranga -São Paulo. Localizado no Parque da Independência, em São Paulo, o Museu do Ipiranga foi inaugurado em 1895 como museu de história natural e marco da Independência. Seu acervo atinge 450 mil itens, do século XVII até o século XX, referentes à história da sociedade brasileira. O museu encontra-se fechado desde 2013, quando um laudo apresentou risco de desabamento do forro e o prédio aguarda obras de restauração. O prédio da antiga Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, abriga hoje a maior e mais importante coleção de arte brasileira do século XIX, além de documentos e livros. O acervo do museu teve origem nas pinturas trazidas e produzidas pela Missão Artística Francesa, que chegou ao Rio em 1816, como também nas peças da coleção de D. João VI deixado no Brasil. A criação do Museu Emílio Goeldi remonta a 1866. Atualmente, a instituição possui três bases físicas. A mais antiga foi instalada em 1895, numa área de 5,2 hectares, atualmente conhecida como Parque Zoobotânico, na capital paraense. Desde sua fundação, suas atividades se concentram no estudo científico dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia. O museu dedicado a preservar a história da Inconfidência Mineira ocupa a antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, hoje Ouro Preto, construída no fim do século XVIII. Além do Panteão com os restos mortais dos inconfidentes, o acervo da instituição abriga mais de quatro mil peças do cotidiano mineiro nos séculos XVIII e XIX, além de importantes obras de Aleijadinho e Mestre Ataíde. O antigo palácio de verão da família imperial brasileira abriga hoje o principal acervo relativo ao império brasileiro, que cobre principalmente o período governado por D. Pedro II, que também mandou construir o prédio neoclássico. Entre os cerca de 300.000 ítens estão a coroa imperial brasileira e a pena de ouro usada pela princesa Isabel para assinar a Lei Áurea. Localizado no Parque da Independência, em São Paulo, o Museu do Ipiranga foi inaugurado em 1895 como museu de história natural e marco da Independência. Seu acervo atinge 450 mil itens, do século XVII até o século XX, referentes à história da sociedade brasileira. O museu encontra-se fechado desde 2013, quando um laudo apresentou risco de desabamento do forro e o prédio aguarda obras de restauração. Inaugurado em 2006 no prédio histórico da Estação da Luz, o moderno museu em homenagem à diversidade da língua portuguesa recebeu quase quatro milhões de visitantes até um incêndio destruir dois andares de sua estrutura em dezembro de 2015. Por ser virtual, seu acervo, no entanto, não se perdeu. O prédio está sendo restaurado e sua reinauguração está prevista para 2019. O Masp abriga a maior coleção de arte europeia do Hemisfério Sul. Idealizado por Assis Chateaubriand, o prédio foi fundado em 1947. No entanto, o prédio icônico que ocupa na Avenuda Paulista, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi e que se tornou marco da arquitetura do século XX, foi inaugurado em 1968, com a presença da rainha Elizabeth II. Seu acervo abrange mais de dez mil obras. Além de um dos principais acervos de arte moderna brasileira, o prédio icônico do arquiteto modernista Affonso Eduardo Reidy e os jardins de Burle Marx, na praia do Flamengo, são atrações do MAM, fundado há sete décadas. Em 1978 um incêndio destruiu quase por completo as obras da coleção, entre elas, pinturas de Picasso e Salvador Dali. Fonte: El País
• V i a j a n d o ? • Mont Blanc – França
– Desde 1° de junho, para combater superlotação, autoridades francesas proibiram acampamento na montanha mais alta da Europa e estabeleceram obrigatoriedade de reserva de quarto em abrigo caso a subida inclua um pernoite (a maioria dos casos). Em 2018, quinze alpinistas morreram durante escalada. São três os abrigos na rota tradicional, com capacidade para 264 pessoas. Aos que acamparem ilegalmente nessa rota, será imposta multa no valor de 300.000 euros (1,3 milhão de reais). – Segundo um funcionário público regional, Pierre Lambert, a superlotação levou a problemas de segurança e saneamento. Também foram registradas brigas nos abrigos e assaltos a guias. Foram 14 mortes nesta última temporada, a última no sábado, 1° de junho, a do britânico Robin Haynes Fisher, 44 anos, na chamada zona da morte. Exaustão e muito tempo nessa zona estão entre as causas. O Everest é o pico mais alto do mundo, 8.000 metros, e a zona da morte é uma região onde o oxigênio é mais escasso. Segundo o guia da excursão de Fisher, Murari Sharma, “ele morreu devido à fraqueza depois de uma subida demorada e uma descida difícil. Ele estava descendo com os seus guias sherpas quando de repente desmaiou. Os guias chegaram a trocar a sua garrafa de oxigênio e lhe ofereceram água, mas não puderam salvá-lo”. Fonte: DW-Brasil • História Em 29 de maio de 1953, o neozelandês Edmund Hillary e seu guia nepalês Tenzing Norgay eram os primeiros a atingir o cume do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo. “A barreira decisiva antes do pico era um paredão superliso de 25 metros, quase sem possibilidades de apoio. Escolheram, então, o lado leste, onde havia uma enorme massa de neve. Hillary foi primeiro, enquanto Tensing garantia a segurança do terreno. Os minutos pareciam durar dias. Também os joelhos e ombros tinham de ajudar braços e pernas a puxar o corpo para cima, tão difíceis eram os movimentos naquela altura. Foi uma luta contra o tempo e contra o fim do oxigênio. De repente, Hillary constatou que não dava mais para subir, o pico tinha chegado ao fim. A partir dali só dava para descer. Foi quando ele e seu guia se abraçaram na montanha mais alta do mundo.” Assim o alpinista austríaco Peter Habeler narra a aventura de Hillary e Norgay. Pela primeira vez, em 29 de maio de 1953, era derrotado o gigante do Himalaia, uma vitória do ser humano, depois de 30 anos de tentativas fracassadas e muitas mortes. Vinte e cinco anos mais tarde, o próprio Hebeler e Reinhold Messner conquistaram outra façanha: escalaram o Everest sem máscaras de oxigênio. Dados adicionais: O Monte Everest, também conhecido no Nepal como Sagarmãthã, no Tibete como Chomolungma e Zhūmûlångmå em chinês, é a montanha de maior altitude da Terra. Seu pico está a 8.840 metros acima do nível do mar, na subcordilheira Mahalangur Himal dos Himalaias. – Quer se arriscar a escalar? * Informações de 12 horas atrás: Fila de espera: 3 anos. Preço da façanha, para contar aos netos: R$270.000 Anima?
• História Concert for George
O evento foi organizado pela viúva de Harrison, Olivia, e pelo filho Dhani, sob a direção musical de Eric Clapton e Jeff Lynne. Os lucros foram destinados à Material World Charitable Foundation, instituição de caridade fundada por George. O concerto tem início com o tradicional sânscrito invocação, o canto Saversham, seguido por Anoushka Shankar, filha de Ravi Shankar, que tocou Your Eyes. Em seguida, ela e Jeff Lynne tocaram The Inner Light, seguidos de uma composição de Ravi Shankar, Arpan (Sanskrit for ‘to give’ – ‘dar’, ‘oferecer’), escrito especialmente para a ocasião. Houve um interlúdio de comédia com membros da trupe Monty Python (Eric Idle, Terry Jones, Terry Gilliam, junto com Neil Ynnes) executando Sit On My Face. Carol Cleveland foi o convidado especial de Tom Hanks para executar Lamberjack Song. O restante do show contou com a Banda de George, formada na ocasião pelos músicos mais próximos a ele, como vários outros que apareceram em suas gravações ao longo dos anos. Tocaram uma seleção de canções, em sua maioria de Harrison, quando Beatle e como pós-Beatles, seguindo fielmente os arranjos originais nas de sua autoria. [10:32, 4/7/2019] Cabaré: My Sweet Lord, com Billy Preston, lead vocal e órgão. Dhani Harrison, empunhando uma guitarra acústica, lembra muito o pai. Aliás, Paul McCartney comentou para a plateia que a mãe de Dhani, Olivia, havia dito a ele minutos antes: “Ao olhar para Dhani no palco, vemos que George permanece jovem, enquanto todos nós envelhecemos”. Obs: Dhani Harrison nasceu em 1° de agosto de 1978, Windsor, Berkshire, Reino Unido. Nessa homenagem ao pai estava com 21 anos. [10:32, 4/7/2019] Cabaré: Banda de George e Convidados: • Eric Clapton – guitarras acústicas e elétricas, diretor musical. • Jeff Lynne, Tom Petty, Joe Brown, Albert Lee, Marc Mann, Andy Fairweather-Low, Dhani Harrison, Paul McCartney – acústico e guitarras elétricas. • Gary Brooker, Jools Holland, Cris Stainton, Billy Preston, Paul McCartney – teclados. • Dave Bronze, Klaus Voormann – baixo. • Ringo Star, Jim Keltner, Jim Capaldi, Henry Spinetti – bateria. • Ray Cooper, Emil Richards, Jim Capaldi – percussão. • Jim Horn – saxofone tenor. • Tom Scott – saxofone alto. • Katie Kissoon, Tessa Niles, Sam Brown – backing vocals. • Anoushka Shankar – cítara. Clapton e McCartney Clapton, Star e Dhani Harrison Cabaré: Repertório do Concert for George 1. Your Eyes, Anoushka Shankar 2. The Inner Light, Jeff Lynne & Anoushka Shankar 3. Arpan, conduzida por Anoushka Shankar 4. Sit on My Face, Monty Python 5. The Lamberjack Song, Carol Cleveland com Tom Hanks Banda de George 6. I Want to Tell You, Jeff Lynne 7. If I Needed Someone, Eric Clapton 8. Old Brown Shoe, Gary Brooker 9. Give me Love, Jeff Lynne 10. Beware of Darkness, Eric Clapton 11. Here Come the Sun, Joe Brown 12. That’s the Way it Goes, Joe Brown 13. Horse to the Water, Sam Brown 14. Taxman, Tom Petty and The Heartbreakers 15. I Need You, Tom Petty and The Heartbreakers 16. Handle With Care, Tom Petty and The Heartbreakers com Jeff Lynne e Dhani Harrison 17. Isn’t it a Pity, Billy Preston 18. Photograph, Ringo Star 19. Honey Don’t, Ringo Star 20. For Your Blue, Paul McCartney 21. Something, Paul McCartney e Eric Clapton 22. _ All Things Must Pass_, Paul McCartney 23. While My Guitar Gently Weeps, Paul McCartney e Eric Clapton 24. My Sweet Lord, Billy Preston 25. Wha Wha, Eric Clapton e Banda 26. I’ll See You In My Dreams, Joe Brown Nota: O espetáculo Concert for George foi totalmente registrado. Há hoje disponíveis gravações em diversos formatos: vinil, CD, DVD e Blu-ray. Esgotado está o pacote acima (apenas mil exemplares para todo o mundo…), lançado quando do 75° aniversário do artista que morreu aos 58 anos. Um primor da produção Pop: vinis, cds, dvds, blu-rays, entrevistas, cenas de bastidores, livro de 60 páginas sobre o evento, fotos e, imaginem, uma verdadeira relíquia, um corte, amostra numerada individualmente da tapeçaria pintada à mão, original, utilizada como pano de fundo de palco do histórico Tributo George Harrison Nascimento: 23 de fevereiro de 1943 – Liverpool, Inglaterra, Reino Unido. Morte: 29 de novembro de 2001 – Los Angeles, California, EUA.